Saúde

Anvisa aprova Mounjaro para tratar obesidade e sobrepeso com doenças associadas

Nova indicação do medicamento representa avanço no combate à obesidade no Brasil



A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou nesta segunda-feira, dia 9, o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da obesidade no Brasil. Até então, o remédio era liberado apenas para o tratamento do diabetes tipo 2 e começou a ser comercializado em farmácias em 15 de maio. Sua utilização contra a obesidade era considerada fora da indicação oficial (off label).

Com a nova liberação, a tirzepatida poderá ser prescrita para adultos com índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 30 — considerado obesidade — ou ainda para pessoas com IMC a partir de 27 que tenham alguma condição de saúde relacionada, como hipertensão, pré-diabetes ou colesterol alto.

Essa decisão representa uma nova fase nas estratégias para combater a obesidade no país.

De acordo com Luiz André Magno, diretor médico sênior da farmacêutica Eli Lilly no Brasil, a autorização aconteceu em etapas: inicialmente, os estudos se concentraram nos efeitos da tirzepatida em pacientes com diabetes tipo 2. Somente após os testes de fase 3 focarem na obesidade, a nova indicação foi avaliada e aprovada.

O endocrinologista Fábio Trujilho, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), comentou que a liberação oficial da nova indicação era aguardada com expectativa. “É um medicamento potente para a perda de peso, com bons níveis de segurança e que também auxilia no controle de doenças associadas, como diabetes e apneia do sono”, explicou.

Segundo Trujilho, a menção da obesidade na bula do remédio também facilita o processo de reembolso parcial por parte de hospitais e operadoras de planos de saúde.

Como age o Mounjaro

O Mounjaro é aplicado via injeção, com administração semanal. A substância tirzepatida atua imitando dois hormônios intestinais: o GLP-1 e o GIP, o que diferencia o remédio de outros similares, como o Ozempic e o Wegovy (à base de semaglutida, que atuam apenas no GLP-1).

Essa dupla ação torna o Mounjaro um agonista duplo, com efeito potencializado tanto no controle da glicemia quanto na regulação da saciedade. Nos testes clínicos conduzidos pela Eli Lilly, a tirzepatida demonstrou maior eficácia na perda de peso e no controle do diabetes tipo 2 em comparação com os concorrentes.

Após 72 semanas de tratamento, os estudos revelaram que os pacientes que usaram tirzepatida perderam em média 20,2% do peso corporal, frente aos 13,7% observados com a semaglutida. Em valores absolutos, a perda foi de cerca de 22,8 kg com o Mounjaro e 15 kg com o Wegovy.

Os testes também mediram a redução da circunferência abdominal, importante para avaliar a gordura visceral — considerada um dos fatores de maior risco para a saúde cardiovascular. A tirzepatida reduziu, em média, 18,4 cm da cintura, enquanto a semaglutida proporcionou uma diminuição de 13 cm.

O tratamento com Mounjaro começa com a dose de 2,5 mg, podendo evoluir para 5 mg, 7,5 mg, 10 mg, 12,5 mg até chegar a 15 mg. A utilização deve sempre ocorrer sob supervisão médica, já que o uso pode provocar efeitos colaterais como náuseas, hipoglicemia e desconforto gastrointestinal.

Preços e acesso

O medicamento chegou ao mercado brasileiro com duas faixas de preço. Uma delas está vinculada ao programa de fidelidade Lilly Melhor Para Você, que oferece desconto mediante cadastro gratuito no site oficial.

Valores com desconto (via programa):

  • 2,5 mg: R$ 1.406,75 (online) / R$ 1.506,76 (em lojas físicas)

  • 5 mg: R$ 1.759,64 (online) / R$ 1.859,65 (em lojas físicas)

Fora do programa, os preços variam conforme o ICMS de cada Estado. Com base numa alíquota de 18%, os valores máximos estimados são:

  • 2,5 mg: até R$ 1.907,29

  • 5 mg: até R$ 2.384,34

Receita obrigatória

Em abril, a Anvisa decidiu que remédios como o Mounjaro devem ter a receita retida na farmácia. A medida visa evitar o uso indiscriminado e entra em vigor em junho, 60 dias após a publicação oficial.

Esses medicamentos possuem tarja vermelha, o que indica que têm risco moderado de efeitos adversos e exigem prescrição médica obrigatória.